Terça-feira, 25 de Outubro de 2005
O recém eleito presidente da Câmara Municipal de Almeida, Prof. António Baptista Ribeiro, tomará posse no próximo dia 2 de Novembro. Depois de 12 anos como vereador no Executivo Municipal, enfrenta agora um novo desafio como responsável máximo dos destinos do concelho de Almeida nos próximos quatro anos.
Domingo, 16 de Outubro de 2005
O cavaquismo não recorda os rios de leite e mel que os indefectíveis nos querem fazer crer para facilitar a caminhada para Belém.
A vitória fácil de Jorge Sampaio teve razões que muitos se esforçam por ocultar e todos se recusam a explicar.
A prudente travessia do deserto, com exposição mediática mínima, nunca deixou de ter activos os panegiristas de serviço que Durão Barroso desiludiu e Santana Lopes deixava apoplécticos.
Cavaco aparece aos deslumbrados apoiantes como instrumento de retaliação contra a esquerda, capaz de fazer a catarse do ressentimento acumulado desde as eleições legislativas e de refazer o prestígio abalado com os últimos Governos de direita.
Alguns apoiantes mais ignaros julgam que a presidência da República tem funções executivas e, por objectivo, derrubar o Governo.
Mesmo entre os mais responsáveis há a secreta esperança de uma alteração das regras constitucionais como se coubesse ao PR e não à maioria qualificada da Assembleia da República a legitimidade de proceder a qualquer alteração.
Todos parecem conhecer mal o homem que despertou tarde para a política, indiferente à ditadura, à guerra colonial e às perseguições policiais, mas que foi fiel à democracia nos anos em que foi primeiro-ministro.
É na base da Constituição actual que concorre ao lugar de PR e, caso fosse eleito, era a esta e não a outra que teria de jurar fidelidade e o compromisso de a fazer cumprir, além de que é incapaz de cometer perjúrio ou trair a ordem estabelecida.
Cavaco Silva não é Sidónio Pais. Os democratas podem estar descansados e os eternos sebastianistas resignar-se-ão às normas constitucionais. Quer seja Soares, Cavaco ou Alegre o próximo PR, a democracia não estará em causa. A eventual vitória de Cavaco apenas perturbaria a estabilidade governamental, mais por culpa dos apoiantes do que do próprio.
Quinta-feira, 13 de Outubro de 2005
Este apontamento deseja-se que sirva de apoio à feitura de um Plano de Ideias / Prioridades, do processo de Planeamento para o Mandato Camarário 2006/2009.
Entende o subscritor deste escrito como ideias principais de um Executivo Camarário:
1) Planeamento estratégico sustentado, devidamente explicado aos Munícipes.
2) Assegurar o contínuo controle/explicação de execução, do Planeamento Estratégico.
3) Aumento da eficiência da actividade/qualidade dos Serviços prestados, e ou a prestar.
4) Contribuição para a imposição de melhor qualidade de alguns Serviços concessionados exigindo assim, mais e melhor dos mesmos.
Que pensam disto os Munícipes do Concelho de Almeida?.
Manuel Forte
Quarta-feira, 12 de Outubro de 2005
Dia 8 de Outubro, mercado em Almeida, já se sabe. Véspera de eleições autárquicas. O ambiente que se respira está estranhamente calmo. Atingido o clímax do último dia de campanha, é hora de recuperar forças não só para os festejos do final do dia 9 como para o digerir das decepções.
Como estou a escrever estas linhas no dia anterior ao de todas as decisões não posso fazer mais do que uma apreciação ao período de campanha eleitoral. Prognósticos, como dizia o outro, só no fim. Também não fazia qualquer sentido estar aqui nesse exercício sabendo que este artigo vai ser lido no rescaldo dos resultados eleitorais. Por isso, limito-me a um simples olhar sobre estes dias agitados que precederam o dia D.
Não se pode dizer que a campanha eleitoral no nosso concelho tenha ultrapassado os limites do aceitável, como aconteceu em tantos outros concelhos. A luta eleitoral ainda (?) não meteu tiros, nem agressões. Meteu, como vem sendo habitual, promessas de empregos, ajustes de contas com aqueles que se sentem defraudados com promessas antigas e não cumpridas. De empregos, claro!
É que parece que tudo gira, campanhas eleitorais incluídas, em torno dos empregos para os próprios ou seus descendentes. Poderemos até entender essa obsessão. Afinal estamos num concelho deprimido, com poucas oportunidades e em que um emprego é um bem escasso para a procura que tem.
Escrevi atrás que esta campanha não tinha incluído agressões. Estava a referir-me, como é óbvio, a agressões físicas. É que o aproximar do dia decisivo e o nervosismo que tal implica, faz com que o verniz estale e a contenção que se conseguiu, sabe-se lá com que esforço, durante algumas semanas, dê lugar ao ataque pessoal, ao esgrimir de argumentos pouco próprios e às agressões verbais.
As marcas destas agressões podem não ser tão visíveis a olho nu, mas provocam mais mossas e são mais duráveis do que as nódoas negras de um murro ou de uma canelada. Principalmente no relacionamento pessoal.
A natureza humana é o que é, e porventura não deveríamos esperar mais dela. Mas para os ingénuos, apesar de diariamente desmentidos, que acreditam que é possível melhorar o Homem, que é possível que os seus interesses e ambições voem um pouco mais alto do que a simples preocupação com a sobrevivência da espécie, é sempre decepcionante ver gente com responsabilidade enveredar pelos ataques baixos e pela rasteirice dos argumentos.
Eu pertenço a essa classe de ingénuos e foi com alguma mágoa, mas não com surpresa que, nos últimos estertores da campanha, vi utilizados argumentos antigos, estafados e principalmente falsos. Ainda por cima, em público e com público. Digamos que do púlpito. E por aqueles que, falhos de ideias, defeito que só vêem nos outros, não as discutem. É que ter ideias dá trabalho e criticar as obras dos outros, não.
Perdoar-me-ão não ser, neste momento, mais explícito. Noutra ocasião o serei. Algumas coisas precisam ser ditas para que todos saibam quem é quem e os objectivos que cada um persegue. Eu estou à vontade. Todos, mesmo os que fingem não acreditar, sabem o que me move: apenas e só melhores dias para a terra onde vivo e principalmente para as pessoas que cá vivem.
Podem, estas palavras, parecer o preâmbulo de um manifesto eleitoral, mas propositadamente as estou a escrever sabendo que vão ser lidas depois das eleições. E propositadamente as escrevo antes de conhecer o resultado do veredicto popular, porque, qualquer que ele seja não as alterará.
Há quem se transfigure nos palanques ou nos púlpitos, dando aí livre curso à eloquência e á argumentação e o fazem quantas vezes de forma superior. Mas há também aqueles que só aí conseguem exprimir o que não conseguem fazer de forma sadia, no confronto pessoal de ideias.
Aos primeiros rendo a minha homenagem e manifesto a minha admiração; aos outros, reservo o meu silêncio
Por enquanto!
Jazigo do cemitério de Génova (Itália) Publicado no «Diário as Beiras», ontem:
Organizado pelo Conselho da Cidade de Coimbra e Pro Urbe, em 27 de Setembro último, houve um debate público no Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra com os quatro candidatos autárquicos.
Perguntei publicamente, na qualidade de membro da Associação República e Laicidade, se os candidatos se comprometiam a arranjar um local condigno para os mortos que não fossem católicos, bem como um forno crematório para quem preferisse a incineração ao enterro.
Obtive a compreensão dos quatro candidatos e, para além do crematório que o Dr. Carlos Encarnação aproveitou para anunciar, foram unânimes em reconhecer a necessidade de um espaço condigno onde ateus, agnósticos e outros pudessem ser velados, sem imposição de símbolos religiosos.
No dossiê «Autárquicas» de 4 de Outubro, sob o título «A morte também é tema de campanha» leio, perplexo: «No bairro onde se situa o maior cemitério do concelho, foi reivindicada uma capela mortuária e prometido um forno crematório».
Faz falta uma capela mortuária numa cidade onde sobram catedrais, igrejas, capelas e outros pios locais onde jorra água benta e emana incenso?
Os que em vida tiveram uma pituitária alérgica ao cheiro das velas, tímpanos avessos às orações e olhos apáticos às sotainas, não têm direito a local digno, liberto de iconografia religiosa, onde os familiares e amigos estejam ao abrigo do latim e do cantochão?
É de um espaço neutro, liberto da omnipresença católica, que a cidade de Coimbra precisa. E foi isso que foi prometido.
Nem outra coisa é de esperar de quem exerce o poder num país laico, mesmo de quem acredita que a devoção abre as portas do Paraíso. É uma exigência cívica de respeito pela Constituição e pelos outros
Segunda-feira, 10 de Outubro de 2005
Antes a perda das eleições do que a do País. É preferível viabilizar Portugal a assegurar vitórias eleitorais.
Vitória eleitoral até Durão Barroso teve, de braço dado com a pior das companhias Paulo Portas. E foi com essa vitória que surgiu a recessão, ajudada, é certo, pela crise internacional; que o desemprego se descontrolou; que o desânimo invadiu Portugal enquanto a credibilidade externa se diluía numa deriva atlantista de contornos belicistas, irresponsável e subserviente à actual administração republicana dos EUA.
Do pelotão da frente, no avanço e aprofundamento da União Europeia, passámos para a retaguarda. Fomos cúmplices na invasão do Iraque que sabemo-lo agora, pela BBC , resultou da conversa de Deus com Bush e da obediência deste aos desígnios divinos.
O PSD tem hoje a liderá-lo um democrata europeísta Marques Mendes. É a direita de rosto humano, com sentido de Estado. Não há, pois, receio de que Portugal se converta na Madeira cujo autocrata vitalício transformou numa ilha politicamente monocolor e democraticamente asfixiante.
Até o CDS, que alberga a franja mais reaccionária e troglodita do eleitorado português, é dirigido por um líder civilizado e europeu.
Assim, sejam quais forem as vicissitudes dos próximos actos eleitorais, não é o regresso ao autoritarismo que se vislumbra, nem a reprodução do polvo madeirense nos ameaça.
Agora é o momento de o PSD dizer como pensa corrigir défices orçamentais e a quem pretende fazer pagar a crise.
O aperto do cinto está apenas no princípio e os produtos petrolíferos não regressam aos preços do passado. Os sacrifícios que nos esperam não auguram tempos fáceis para o Governo. Apenas espero que não tenha a tentação de fazer pagar aos mais fracos o ónus que a herança recebida e a conjuntura que persiste nos obrigarão a pagar.
O candidato do PSD, Prof Baptista Ribeiro, é o novo Presidente da Câmara Municipal de Almeida, deppois de na noite de ontem ter batido o candidato socialista por 90 votos de diferença (2857 contra 2767).
Sábado, 8 de Outubro de 2005
Um poeta brasileiro definiu os compatriotas como portugueses à solta. Eça, com ternura, escreveu nAs Farpas: «O Brasileiro é o Português dilatado pelo calor». É esse português que vale a pena conhecer enquanto se aproveita o calor e descobre o país que lhe serve de habitat.
Há cerca de uma década e meia passei dez dias no Rio e fiquei fascinado. Jurei que voltava, promessa de que me desobrigaria nas férias do ano 2000, em Setembro, alargando a visita a outras paragens.
Visitar o Brasil não é um ritual que se cumpre ou a folha que se rasga no calendário das viagens. É um encontro com a história, um sonho de que se acorda num país imenso, uma viagem aos afectos da nossa memória.
Para lá do mar, da areia, das ondas e da sua espuma, está um povo de braços abertos aos nossos abraços.
Em Salvador estão os meninos pobres de olhos doces, capitães da areia a ver o Quincas ou o Quincas Berro de Água a sair a barra em seu saveiro ou a aguardar Vasco Moscoso de Aragão Capitão de longo curso para afogar-se em álcool, nos botequins, em noite de tempestade.
Em Salvador viveu Jorge Amado do carinho de Zélia, seu elixir, vivem deuses, muitos deuses, trazidos pelo mar, sempre pelo mar, pelo mar do imaginário negro onde habitam. Jorge Amado há-de continuar a viver enquanto as cinzas andarem por ali. Dos livros, dos muitos livros que escreveu, saltam personagens que viram nomes de ruas, largos, galerias, restaurantes, lanchonetes e churrascarias.
Em cada esquina há um templo, em cada baiano um crente radical, em cada criança um rosto onde espreita a fome, rostos onde brilham olhos de lágrimas secas pelo sofrimento.
E há a cor, a imensa cor, que do céu, da areia e do mar salta para as telas em tons de amarelo pela mão de numerosos pintores que pululam em Salvador.
Natal e Fortaleza são outros portos onde se amarram as âncoras das recordações, mercados onde se sacia a febre das compras, pontos de partida para ilhas tropicais, sítios de chegada de extenuantes caminhadas.
E há os buggys em viagens radicais pelas dunas dos nossos medos, jangadas de tracção humana a fazer a ponte entre duas margens, ilhas tropicais na exuberância da sua flora, os lagos e as praias de águas mornas de tantas e variegadas cores e areias cálidas de tantos tons, e as gentes, as gentes afáveis que se pelam por um papo.
Ficam na memória os olhos meigos dos meninos de Salvador e o humor, num país cuja gente tem todos os nossos defeitos acrescidos de outros por conta própria ou geração expontânea.
E no Rio de Janeiro lá aguardam, entre mar e vegetação luxuriante, Copacabana, Leblon, Tijuca, o Pão de Açúcar à espera do medo e vertigem dos veraneantes, o Corcovado, o Jardim Botânico, enfim, a cidade mais maravilhosa do mundo, ferida pelas favelas da Rossinha, Pavão Pavãozinho, Canta Galo e tantas, tantas outras, que sobem ao cume de montes e chegam ao céu.
Não sei se foi macumba ou sortilégio que me levou pela segunda vez ao Rio. Sei que gostava de voltar outra vez ainda. Já no último dia, pouco antes de entrar no avião onde me aguardava um comandante com alma de poeta e convicção de pastor evangélico, com duas homilias preparadas, uma para a recepção e outra para a despedida, visitei a catedral, paradigma duma certa modernidade do Brasil.
Encontrei um pedido carregado de fé que um devoto depositou junto à imagem da Senhora da Aparecida verdadeira metáfora de brasileiro padrão. Transcrevo-a com o respeito devido, em letras maiúsculas, como o fazia o texto:
EU UBIRAJARA DA CONCEIÇÃO ESTO PRESIZANDO DE UMA COMPAEIRA PARA ME DAR AMOR E FAZER, UMA JOVEM MULER SEM COMPROMISO QUE TENHA CASA.
Por desespero, ou por não se fiar na Virgem, dirigiu a S. Sebastião igual pedido, com a solicitação suplementar de um emprego. Os pedidos estavam bem à vista, sob os olhos dos ícones que não poderiam alegar desconhecimento, a menos que se refugiassem em pretextos ortográficos.
Quem sabe se os pedidos que o céu não tinha escutado já começaram a ser atendidos por ouvidos mais terrenos no país de Lula. Quem sabe.
Quarta-feira, 5 de Outubro de 2005
Viva o 5 de Outubro
Fizeram mais pela liberdade os portugueses, num só dia, do que a família de Bragança em dois séculos e meio.
Segunda-feira, 3 de Outubro de 2005
«O homem é o lobo do homem» mas alguém tem de pôr ordem na alcateia. A força com que alguns defendem o que lhes sobra só é comparável com a debilidade de muitos em conseguir o que lhes falta.
A democracia, oferecida por um grupo de militares, logo afastados e prejudicados nas suas carreiras, cedo foi confiscada pelas classes que, já na ditadura, eram privilegiadas. Os frutos do crescimento económico foram confiscados por corporações profissionais enquanto o fosso entre os ordenados maiores e os menores não parou de acentuar-se.
É frágil a democracia que não tem em conta os aspectos económicos e sociais. De pouco vale a quem perde o emprego, vive inseguro ou vê vedado o acesso ao mercado do trabalho.
Nunca o egoísmo atingiu um grau tão elevado nem a insensibilidade social chegou tão longe. Através das Ordens, tumores corporativos que pululam como cogumelos, há classes que se atrevem a definir como, quando e quem pode entrar.
Os privilegiados não abdicam de regalias, tantas vezes imorais e obscenas, quando o erário público não comporta os compromissos assumidos. Os direitos adquiridos são respeitáveis mas também a vida é um desses direitos e caduca sem aviso prévio.
Após as greves dos poderosos, virão desempregados, trabalhadores sazonais e jovens à procura do primeiro emprego a exigir, desesperados, a inclusão e a ameaçar a opulência, a segurança e a arrogância dos que se repoltreiam à farta na débil mesa do orçamento. Estes, refractários à solidariedade, só à força aceitarão a justiça social.